nunca soube bem o que fazer com elas.
Sacrifiquei-as, muitas vezes -
roí-lhes as unhas na aflição,
e, nos reveses,
retorci-as, como a roupa molhada
(de lágrimas),
usei-as como escudo,
escondi-as atrás do medo,
e, em segredo,
escrevi e rasguei com elas
tantas e tantas páginas!
O que melhor fiz com elas,
o que mais me redimiu,
por não saber, tantas vezes, o que fazer delas...
foi o carinho com que toquei as tuas,
a seda macia de que fiz as minhas luvas,
com medo de magoar a frágil flor da tua pele,
lírio de inigualável candura.
Mas - estava escrito no céu-
estas mãos em atonia,
seguraste-as como quem as sabe suas,
guiaste-as num desígnio de poema,
emprestando-lhes a arte que é só tua
- Poesia -
fingindo ser-lhes só inspiração,
ensinando-lhes que escrever também serena.
Ah, anjo bom,
esse gesto é perfume que perdura
e se evola, e me lava
estas mãos que me tomaste
teu doce duo de escravas,
porque as beijaste.
As minhas mãos,
pobres mãos de mim também,
desajeitada,
(que tantas vezes não soube que fazer delas),
são por Deus abençoadas
e eu, pensando bem,
só tenho que erguê-las e agradecer,
só tenho que pousá-las e escrever:
'Um Anjo passou por elas!'
maTer (2014)