terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

CÁRCERE DE SAUDADE

Hoje a manhã está a chorar...
Por ti, meu amor...
E as lágrimas que o vento traz
Agarram-se à janela do meu olhar triste,
Escorrem em desesperado silêncio,
Tentam tocar os meus dedos,
Lamber-me as dores,
Por entre as grades gélidas da saudade...

O vento é cruel carcereiro,
Faz da chuva chicote,
Despedaça murmúrios das árvores,
Lá fora...
Contorce gemidos aprisionados
Em mim...

A chuva compadece-se...
E o seu toque na minha janela
Transforma-se em lento prantear
Que escorre meigo, balsâmico,
Na frieza vítrea da minha saudade...

Mas os dedos dolentes da chuva,
Insistentes, meigos, coleantes,
Não conseguem penetrar o inatingível vazio,
Que resguardo,
Para cá da vidraça fria,
Ao morno torpor desta fogueira
Onde queimo saudade...


(escrito em 18 de Fevereiro de 1988)


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