A VIDA CONTINUA... (Vida e morte de um Grito)
Ele nasceu de parto provocado, arrancando uivos às profundezas do magma quente, que se contorceu em dores. Abriu-se uma fenda na mole incandescente e ele saíu, finalmente, deixando uma cicatriz atrás dele (por ironia), do feitio dum coração; não daqueles simétricos, estilizados... não!.. Um coração de verdade, redondo, tosco, de vasos quebráveis e relevo rugoso. E quente.
Agora começava a sua subida... Os rios correm para o mar, normalmente a um nível inferior da serra que os dá à luz. Mas ele não era um rio, apesar de ter um qualquer parentesco afastado com os rios... Ele era sangue e paixão, vida e morte, bala e ricochete, desespero e expurgo! Transportava em si torrentes de sentimentos. Nada sobrevivia em si, ele sobrevivia em tudo, nada lhe fazia margem, ele era a margem, entre a nascente e a foz. E acartava estilhaços de alma na corrente, não como flutuantes pedaços de madeira, mas como bracejos de velas, lutando para não naufragar.
A pulso e silêncio contido, subiu. Cresceu. Raiou de púrpura os ocidentes, asfixiou horizontes, esgazeou o olhar que o vendava, rasgou a garganta que o retinha. Soltou-se, enfim, em estridor de foz e expiação.
Subiu ainda, em decibéis de asas feridas, descobriu-se em liberdade, perdeu-se no vazio... e morreu, em ecos de grutas petrificadas pela indiferença (as grutas são da idade da pedra, já se habituaram aos voos sinistros e assustadores de morcegos famintos...).
Caíu por fim, no silêncio suspenso dum crepúsculo deserto. As estrelas que vieram vê-lo, acusaram o estertor ribombante do seu último suspiro e tremeram.
A noite adormeceu, vestida de luto.
O grito morreu!...
Mas amanhã... amanhã a aurora vai ser cor-de-rosa e pássaros jovens irão aprender gorjeios duma sinfonia reinventada.
A Vida continua...
Agora começava a sua subida... Os rios correm para o mar, normalmente a um nível inferior da serra que os dá à luz. Mas ele não era um rio, apesar de ter um qualquer parentesco afastado com os rios... Ele era sangue e paixão, vida e morte, bala e ricochete, desespero e expurgo! Transportava em si torrentes de sentimentos. Nada sobrevivia em si, ele sobrevivia em tudo, nada lhe fazia margem, ele era a margem, entre a nascente e a foz. E acartava estilhaços de alma na corrente, não como flutuantes pedaços de madeira, mas como bracejos de velas, lutando para não naufragar.
A pulso e silêncio contido, subiu. Cresceu. Raiou de púrpura os ocidentes, asfixiou horizontes, esgazeou o olhar que o vendava, rasgou a garganta que o retinha. Soltou-se, enfim, em estridor de foz e expiação.
Subiu ainda, em decibéis de asas feridas, descobriu-se em liberdade, perdeu-se no vazio... e morreu, em ecos de grutas petrificadas pela indiferença (as grutas são da idade da pedra, já se habituaram aos voos sinistros e assustadores de morcegos famintos...).
Caíu por fim, no silêncio suspenso dum crepúsculo deserto. As estrelas que vieram vê-lo, acusaram o estertor ribombante do seu último suspiro e tremeram.
A noite adormeceu, vestida de luto.
O grito morreu!...
Mas amanhã... amanhã a aurora vai ser cor-de-rosa e pássaros jovens irão aprender gorjeios duma sinfonia reinventada.
A Vida continua...
1 comentário:
Forte,profundo e lindo,Tera! beijos,chica
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