BALADA DA SAUDADE
Bate mansa, triste e leve,
como quem chora por mim.
Será chuva? Será neve?
Neve não!, não é tão breve,
e a chuva não dói assim.
Será só melancolia,
que com frio e jeitinho.
se chega, muda e fria,
trazida pla ventania,
ao calor do meu cantinho...
Quem bate assim, docemente,
com a íntima certeza
de quem conhece a gente?
Não é dor o que se sente,
e há nela certa beleza...
Ah!... A saudade sorria
velada por fino véu,
branda e leve, branda e esguia,
há quanto tempo eu sabia
o seu toque de Morfeu!
Traz na mão argêntea taça.
Of'rece um gole de vinho,
e enquanto minh'alma abraça,
bebe a lágrima que embaça
os meus olhos, de mansinho...
Fico dormente, sem ais,
entrego-me, sem esperança,
e os meus alentos vitais,
por muitos instantes mais,
são réus da sua cobrança...
E de lábios inda feridos
pelo bordo de flagelos
do cálice dos meus sentidos,
sinto o abraço comovido
da saudade, em desvelos...
Mansa saudade, que é dor
sem me doer tanto assim!
Pois não me traz o calor
dos teus beijos, meu amor,
mesmo só dentro de mim?!...
E me entrego, dócil presa,
À saudade, em oração.
No rosário da tristeza
vou desfiando a certeza:
Estás no meu coração!...
...sempre...
3 comentários:
"Saudade é vontade de morar na fonte de nosso desejo."
Esse blog é tão especial.
Beijos no coração, amiga borboleta de meu jardim.
Se, Augusto Gil, visse isto
dar-se-ia conta do que é sentir, em sulcos compridos, uns versos comprometidos num sorriso de criança!...
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