terça-feira, 28 de abril de 2009




(alinhavos...)


Não ter-te é lição que não aprendo,

Prima arte que refaço, dia-a-dia,

Na ilusão de moldar-te em maestria

E bordar-te só no sonho a que te rendo...


Mas não sei aprender a não te ter,

Por mais que me ensine a vida mestra!...


Nos sentidos retalhados p'lo sofrer,

Aprendiz, alinhavo o que me resta...

sábado, 25 de abril de 2009


DEVOÇÃO


Gostar de ti

é um poema inacabado,

verso em intangível rima, terna e eterna,

que no advento de um reencontro adiado,

aperfeiçoo em sublime, crente novena...


Gostar de ti

é um cântico que não me canso

de cantar, na ânsia da perfeição...

gorjeio nobre tangido a dor, ribeiro manso,

que lambe as dores às pedrinhas do seu vau...


Gostar de ti

é poema que sei de sempre,

de cor e alma, mas que ensaio a primor,

porque o meu tempo no teu tempo de mim ausente

é tanto, que esperar-te é pranto, meu amor!...


E assim, neste compasso de solene saudade,

o teu poema reza-me a esperança do reencontro...

...e guardo-te, na devoção da eternidade!


terça-feira, 21 de abril de 2009



BEIJOS ALADOS




O adeus que nos separou, meu doce amor,

não se anunciou num beijo alado,

como tantos que criámos, lado a lado,

e lançámos, passarinhos, em voo e cor...




Esse adeus que te levou, amor tão meu,

abandonou-me, rasgada em mim, de ti perdida,

andorinha presa no Inverno, de asa ferida,

que desespera por não saber chegar ao Céu...




Cruel adeus, que me tomou em vil traição,

e me levou os beijos ternos que te ensinei...

como vivo sem os beijos que te dei,

se com eles foi também meu coração?...




Olhos meus, que de chorar-te me secam frios,

moribundos, que sem morrer, me vivem tristes...

Meu amor, do paraíso onde sei que existes,

lança-me um beijo, passarinho, mesmo que em pios...




Tomá-lo-ei, com mil carinhos, na minha mão,

Cuidá-lo-ei, com zelos mil, de mãe estremosa,

E aos meus lábios o levarei, botão de rosa,

Ânsia de alento, pulsar que volta a um coração!








quarta-feira, 8 de abril de 2009


BALADA DA SAUDADE


Bate mansa, triste e leve,
como quem chora por mim.
Será chuva? Será neve?
Neve não!, não é tão breve,
e a chuva não dói assim.

Será só melancolia,
que com frio e jeitinho.
se chega, muda e fria,
trazida pla ventania,
ao calor do meu cantinho...

Quem bate assim, docemente,
com a íntima certeza
de quem conhece a gente?
Não é dor o que se sente,
e há nela certa beleza...

Ah!... A saudade sorria
velada por fino véu,
branda e leve, branda e esguia,

há quanto tempo eu sabia
o seu toque de Morfeu!

Traz na mão argêntea taça.
Of'rece um gole de vinho,

e enquanto minh'alma abraça,
bebe a lágrima que embaça
os meus olhos, de mansinho...

Fico dormente, sem ais,
entrego-me, sem esperança,
e os meus alentos vitais,
por muitos instantes mais,
são réus da sua cobrança...

E de lábios inda feridos
pelo bordo de flagelos
do cálice dos meus sentidos,
sinto o abraço comovido
da saudade, em desvelos...

Mansa saudade, que é dor
sem me doer tanto assim!
Pois não me traz o calor
dos teus beijos, meu amor,
mesmo só dentro de mim?!...

E me entrego, dócil presa,
À saudade, em oração.

No rosário da tristeza
vou desfiando a certeza:
Estás no meu coração!...




...sempre...