terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vinte e cinco anos...


Quando tu nasceste, meu mais tenro amor, nasceram contigo flores inigualáveis, no meu coração de terra-mãe. Acho que até o sol nasceu inigualável, nessa manhã fria - esse Domingo de Dezembro que escolheste para tua Primavera.
Lembro-me com a nitidez da saudade: havia filigranas de geada nas flores, o ar era de cristal sublimado e a luz do sol cintilava matizes doces, em envolvências de afago.

Nasceste, e todo o Mundo se transformou, parece-me agora. Todo o meu mundo, tenho a certeza. Olhei-te, e nesse olhar, mesmo não o sabendo ainda, compreendi um anjo. Com esse olhar te abracei, meu doce amor, para sempre...

Nasceste e sorri para ti, achando-te ainda mais linda que todas as flores possíveis. E fiz da luz dos meus olhos, colo de mãe pronta a querer-te filha.
(Ah, e sentir a tua boquinha ávida no meu seio, foi sensação suprema, que nenhuma pétala de seda imitaria! E desse momento único, fiz um quadro de amor não legendado, cena bíblica, impressa a cor de céu -sei agora- só aos anjos permitido).

Nasceste, flor do meu ventre escolhido. E amei-te, terra-mãe, entre as flores que me trouxeste, nesse dia abençoado...
Dessas flores, colhi tantas! Colhi uma, todos os dias da tua pequenina vida!... Chamei-lhes rosa, amor, boneca, tesouro, botãozinho, querida, amorinha, fofura, mimor, adorada, filha... Diana. Flor de amor, que tão cedo me deixaste... Como essas flores, eras frágil... mas estavas destinada a ser eterna. A não ter de murchar, na finitude da Terra. A nunca ter de sofrer a caducidade das pétalas, em dor e pecado. A nunca ter de perder a luz...

E subiste ao céu, tão longínquo e inalcançável, para uma pobre mãe-flor mutilada do seu mais tenro botão...
Então Deus, que tem uma alma do tamanho do Universo, mas que cabe no cálice da mais pequena flor do campo, enterneceu-se e transplantou-te do Céu para o meu peito...
Aí te guardo ainda, num céu muito teu, forrado do primeiro olhar com que te envolvi... do primeiro amor com que te aqueci...

Mas foste tu que me aqueceste, minha filha.
Para sempre...



A tua mãe, neste teu 25º dia: 8 de Dezembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ADEUS, MEU AMOR, ADEUS...

Adeus, meu amor, adeus,
parte-me a alma o teu partir
e o beijo que em dor te deixo
deixa-me os lábios magoados
do derradeiro sentir.

Adeus, meu amor, adeus...
morre-me o tempo de te viver
e a saudade que já me acerca
cerca-me de sós madrugadas
sem dia para acontecer.

Solta-me o beijo uma lágrima
para dizer-te o que escrevo
dentro do peito em súplica...

Adeus, meu amor, adeus,
choro-te, como quem explica
a chuva que cai do céu

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MEUS OLHOS (A)MAREJADOS

As águas dos teus olhos eram doces,
corriam ao sabor do meu enlevo
em olhares adornadas d'arcos de íris
- antecâmaras dos nossos abraços...

As águas dos meus olhos eram chuvas
mansas, em descuido ímpio de Osíris,
uniam-nos crentes nós, cegos laços
- da Vida te esperava eterna posse...

As águas do teu rio eram tão doces,
que na foz me amargaram o beijo último
- e o ardor me salgou os olhos tristes...

As águas dos meus olhos marejaram,
e guardaram para sempre as tuas águas
- nelas busco, dia-a-dia, as minhas chuvas...

domingo, 24 de outubro de 2010

Canta-me o tempo que passa...

Reza-me o tempo que passa,
Os mistérios sinuosos
Onde ajoelho a saudade.

(que sei eu da eternidade,
dos anjos do céu, de Deus...?)

Resta-me a vida que traça
Refrigérios tortuosos
Ao calvário da verdade.

(que sei eu da eternidade,
dos desígnios, do adeus...?)

Canta-me o tempo que passa,
Adágios misericordiosos,
Baixinho, pra não chorar.

A eternidade é um instante,
e o céu... sabe esperar.

(eu...? ainda estou só a aprender...)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

CONCEPÇÃO

Separa-nos só o véu que me atravessa,
do meu ventre às tuas asas, anjo meu…
separa-nos só o céu que me confessa
que a eternidade é minha cúmplice, e eu,
mãe ainda,
embalo-te no meu útero de esperanças,
alimento-te de fluidos essenciais,
(que das lágrimas retêm semelhanças),
até que eu parta, anjo meu, aos meus sinais.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Botões que nos apertam

Sabes?
Sabes.
Ainda tenho no peito
o calor doce que deixaste,
doce amor, nem a saudade
te rouba o lugar cativo,
trago-te sempre comigo,
ao alcance de um beijo meu.
Sabes?
Foi tão forte o nosso abraço,
que nunca desapertou...
e o perfume que deixou,
de tão doce, fez nascer
rosas dentro do meu peito,
doce amor, ainda em botão,
à espera que o teu toque
as faça abrir com jeitinho
e desaperte em ternura
este amor que em mim perdura
e que cuido com carinho.
Doce amor, virá um dia
em que enfim desfolharão,
mas sei que te tenho perto
pra me dares a tua mão
e me mostrares o caminho
sobre as pétalas já sem ninho...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

RIO DOCE


Tinhas nos olhos um rio doce
e eu fui margem que te quis tanto!...
Mas quis-te a foz mais do que eu
te pude amar ou te prender...
E nas dores minhas de te perder
salguei meus olhos, tornei-me mar,
fui o teu berço de desaguar...

Tinhas nos olhos um rio doce
que guardei dentro dos meus,
mas da mistura que fiz de nós
só o azul aconteceu,
já que em pura sublimação,
todo o teu ser se elevou,
todo o meu ser é reflexão:
mar desespero e puro céu...


terça-feira, 13 de julho de 2010

NO MEU COLO AINDA...

Ficou-me, acerca do gesto,
Um hábito de doce amimar…
No olhar, uma gota
De distante orvalhar.
E um nome infante
De presente adorar
Nos lábios de círios
Em aceso rezar…

Ficou-me, no ar que me ronda,
Um leve sopro a animar

Perfumes de rosas.
E no caminhar
Vestígios de vida
De eterno pisar
Nos espinhos que tenho
Que atravessar

Longe do teu toque,
Perto do teu guardar…

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Onde estáveis, lágrimas?...


Onde estáveis, lágrimas,
quando mais de vós precisei?...

onde estavas, fonte morna,
quando gelo me tornei,
petrificando na alma
gumes da dor que pisei?...

onde estavas, manto doce,
quando por dentro chorei,
vitrificando nos olhos
humidades que sangrei?...

em fome e insipidez,
em sede e influidez,

a vós, lágrimas, vos direi:

de tanta dor eu morri,
que sem querer
vos matei!...

terça-feira, 22 de junho de 2010

"A vida não é mais que um ferimento..."

(Dianinha, este eu não escrevi para ti. Mas escrevi a pensar em ti...)



A vida não é mais que um ferimento,
agro e lento,
Na pele que fingimos ser eterna.
A alegria é só bálsamo que se escoa,
Se esboroa,
Entre os dedos do Deus que nos governa…

Viver cada instante como o último,
Como um dízimo
A entregar em tributo pelo amor
Que um filho nos permite e nos concede,
Em fé crede,
É de certo a nossa riqueza maior…

E se a morte nos ferir mais do que a vida,
Assim ainda,
Nos devemos relembrar que Deus é Pai
E sente a nossa dor como se Ele,
Na própria pele,
Sentisse o cruel golpe que nos trai…

Na fé e na saudade,
Em verdade,
Vos digo, resta a força
Que é nossa
Por sorte ou por crença
de nascença…

A Vida não é mais que um momento
Eterno, porque é nosso o sentimento…

A Vida pode ser só um instante,
Mas amar é levá-lo por diante...



POEMA EM DOR MAIOR


Como quem canta um fado
ausente em si profundo,
fecho os olhos para o mundo,
rasgo a dó e em mim cravo
o espinho com que tanjo
as cordas da melodia
que me embala a agonia...
Abro os olhos...

vejo um Anjo.

sábado, 29 de maio de 2010


COMO SERIA, FILHA?...



Como serias, filha,
como seria,
o teu florir de botão de flor,
o teu sorrir, pela mão do amor
que eu te daria?

Como serias, filha,
como seria,
o despontar do teu aprender,
o desfolhar que o teu bem querer
perfumaria?

Como serias, filha,
como seria,
o teu viver aprendendo as dores,
o teu crescer no minguar das cores
da inocência?...

Quis Deus que fosses para sempre um anjo,
que me ficasse para sempre a imagem
de uma boneca preciosa e frágil...

Como seria, filha,
como serias?...
Legar-te o Céu eu não poderia,
e só o Céu tu merecerias...

ALTAR


Ninguém sabe, mas no peito
Tenho um altar pequenino,
Que todo o dia enfeito
De flores frescas e saudade,
Em devoção e carinho...

Ninguém vê, mas há uma luz
A iluminar-me o caminho
E a esbater minha cruz,
De imponderável pesar,
Na sombra de um anjinho.

Ninguém diz, mas só eu sei,
Quanto me feriu o espinho
Da coroa que suportei
Na minha fronte a sangrar,
Quando te envolvi em linho...

Ninguém sabe que o sudário
Onde depus com jeitinho,
(Como em rico relicário),
O teu corpo delicado -
É meu peito, o teu bercinho...

quarta-feira, 7 de abril de 2010


QUERO MORRER NOS BRAÇOS DE UM ANJO...



Quero morrer nos braços de um anjo

que saiba a cor dos olhos que tenho,

e me encontre no céu um canto qualquer

onde eu possa ser de algum préstimo...



Posso ser pastora das nuvens que balem

murmúrios de vento num prado em azul,

depois, tecelã das asas dos anjos,

ou mestre-escola dos querubins...



Quando eu morrer, nos braços de um anjo,

quero reconhecer-lhe o colo macio,

aprender com ele a perspectiva única

de ver o Mundo com olhos de Deus...



Quero ser tudo o que não consegui ser,

quero ser melhor do que fui capaz,

mais forte que a Vida, mesmo que na Morte,

de própria vontade doar-me, inteira!



Quero que o meu Anjo me tome nos braços

e me encontre um canto de paz junto a si,

que me desvende o papel para que morri...

ou, simplesmente, me deixer ser... Mãe...






segunda-feira, 29 de março de 2010


PARA O CÉU NASCIDA



Trazias na pele o perfume doceAdicionar vídeo
Das rosas de Inverno beijadas de sol,
E fios de seda em arabesco
Bordavam a fímbria do lençol
Onde te deitei, nascida de fresco,
Emoldurando a beleza precoce
Do teu rostinho delicado!

Trazias contigo a luz da manhã
E a cor fresca e nova de um botão de flor
Ungido de orvalho e inocência,
Recém revelado milagre de amor,
Anjo permitido a humana aparência,
Envolto em asas da prosaica lã,
No teu bercinho, a meu lado!

Trazias a sorte do céu e do adeus,
Mas enquanto comigo, foste puro afago,
E nem esta dor em saudade que trago
Me descrê do milagre que me és em Deus!...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Das nossas manhãs (e despedidas)


Permeio esta saudade,
que é meu único consolo,
com os sonhos que deludo,
e ainda sinto o teu cheiro,
a tua pele de veludo
róseo e morno, e ainda quero
afagar-te no meu colo...

Penteio os fios de seda
do tear do teu cabelo,
com jeitinho e laços ledos,
e ainda os sinto iludir-me
a carícia dos meus dedos,
e o teu beijo, que me dói,
por tanto apetecê-lo!...

Passeio o gesto de ter-te
nas minhas mãos que te vestem
o corpinho mal desperto,
com mimos e mil cuidados,
e os botões que te aperto
ao nácar da tua nuca,
são beijos que ainda sentem!

Premeio a dor que me toma
com a ilusão de deixar-te
só, só por um bocadinho...
e ainda voa o teu beijo
da tua mão, passarinho,
e, com um pueril "chau-chau",
ao meu peito vem pousar-se!

Ponteio, a luz tua, a via
que me leva ao alcançar
do encontro que me iludes,
e é com essa claridade
que alimento este passar
entre as cruzes que me ajudas
por milagre, a carregar!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SÓ TU, TALVEZ...




Só tu,
talvez,
que estás tão acima
do azul que abraça este vale
das lágrimas onde mergulho
a saudade que me aperta
e me aparta
do Céu...

Só tu,
talvez,
tão acima desta luta
que travo com a ausência
da visibilidade da luz,
saibas o quanto em dor
me coube
em Vida...

Talvez só tu
(e Deus),
saibas a força que sou,
a mão que me amparou
quando os espinhos que teci
da coroa que mereci,
me doeram
na Alma...

E a ti
(e a Deus),
ergo os olhos já sem lágrimas,
recolho-me às minhas margens
e vejo fluir os rios
que purifiquei
em Ti...