quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Das nossas manhãs (e despedidas)


Permeio esta saudade,
que é meu único consolo,
com os sonhos que deludo,
e ainda sinto o teu cheiro,
a tua pele de veludo
róseo e morno, e ainda quero
afagar-te no meu colo...

Penteio os fios de seda
do tear do teu cabelo,
com jeitinho e laços ledos,
e ainda os sinto iludir-me
a carícia dos meus dedos,
e o teu beijo, que me dói,
por tanto apetecê-lo!...

Passeio o gesto de ter-te
nas minhas mãos que te vestem
o corpinho mal desperto,
com mimos e mil cuidados,
e os botões que te aperto
ao nácar da tua nuca,
são beijos que ainda sentem!

Premeio a dor que me toma
com a ilusão de deixar-te
só, só por um bocadinho...
e ainda voa o teu beijo
da tua mão, passarinho,
e, com um pueril "chau-chau",
ao meu peito vem pousar-se!

Ponteio, a luz tua, a via
que me leva ao alcançar
do encontro que me iludes,
e é com essa claridade
que alimento este passar
entre as cruzes que me ajudas
por milagre, a carregar!

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