quarta-feira, 18 de março de 2015

Sabes, meu amor...


Sabes, meu amor,
já sei por que partiste.
A vida é longa demais...
longa demais para se ser anjo,
larga demais para nos ser trilho
inquestionável...
Há tantas distracções, tantos caminhos,
tanta luz fátua a encobrir o brilho
imaculável
com que nascemos!
Tantos atalhos,
tantas encruzilhadas,
tantas flores efémeras
a iludir-nos nas bermas
das estradas!
Meu amor,
tanto martírio
a esperar-nos em cada esquina!
...
que, sendo tu frágil lírio,
flor-menina,
não resistirias à terra esmagada,
tão pisada,
por passos que se perdem nesta busca
(sempre vã, meu amor)
a que estamos condenados por sentença
crucial.
A vida é longa demais,
o céu é estreito,
por isso, meu amor,
te perco tantas vezes
no horizonte breve do meu peito...
mas nunca esta boca há-de negar-te,
nem a minha alma deixar de encontrar-te
tantas vezes
quantas a minha cruz cair ao chão...
Perdoa-me, anjo meu,
em lágrimas te peço,
cravejando a aridez das minhas mãos
...
não desistas de esperar-me
no fim do meu caminho,
com o teu riso de rosas frescas
e o teu olhar de de água doce,
como se ainda
tua adorada mãe
eu fosse... 

terça-feira, 17 de março de 2015

Houve

    Houve

    (beijos entre nós)

    sementes na minha pele
    raízes sulcando fundo
    imortalidade branca
    doce dor ternura tanta
    negando a fragilidade
    dos teus lábios.

    Houve abraços, houve braços
    as tuas mãos, os teus traços
    os teus olhos de menina
    e as palavras pequeninas
    que aprendemos

    sem saber

    que as que ficaram nos lábios
    por dizer
    e me seguram a ti
    meu amor
    são ainda botões tenros
    abrindo-se em cada beijo
    que me dás...

    em cada instante que sinto
    a tua paz.