segunda-feira, 16 de março de 2009

BREVE RAIO DE SOL BREVE


Sempre que te chamo, roças o meu rosto,

Beijo por mim passas, em brisas de asas,

Leve, o teu toque, diáfano e rosas,

Afasto-me o cálice, nego-me o desgosto...



Ao altar me chamas, em silêncio e luz,

Adorar-te eterna em prece sentida

É cruz que me elevas, filha prometida,

Doce dor saudade que mata e seduz.



És doce fragrância de manhã cristal,

Sempre que te sinto, rosa e orvalho,

Regato onde bebo, sombra a que me valho...



Círio e cera em lágrimas, cântico final,

Raio de sol breve que me iluminou...

...Arde em mim perene a dor que me ficou...



DOCE AMOR ETERNO




O que de mãe melhor te dei,
meu doce amor,
foi a vida que te gerei,
meu fruto em flor,
que não abriu, traíu a lei
e em ai de dor
me foi cortada, de mim ceifada
e eu não sei
se te replanto num céu que espero
arar um dia,
ou se na alma onde a saudade
o adeus adia!...

...



...Amo-te eternamente...

terça-feira, 3 de março de 2009


BEIJOS PÉZINHOS DE LÃ

Dos teus beijos, lembro as manhãs acordadas

por cheiros de amora e lírios

brancos, em ramos de mimos

enlaçados por abraços

e toques de seda e cílios...

Era de cristal teu riso,

de veludo teu contacto,

e os beijos, os beijos

que me davas de manhã,

vestiam docel de pétalas,

tinham pézinhos de lã!...



Das manhãs, lembro os teus beijos sem sono

a acordar-me o amor desperto

pelo aroma tenro de rosas

em botão desapertado...

E passarinho liberto

era teu chamar baixinho,

apelo guardado em ninho

da tua boca de beijos

tímidos, meigos, tocados

por subtis tons de manhã...


Beijos pézinhos de lã

ciosamente guardados

num legado de saudade

que elevo à eternidade...



A VIDA CONTINUA... (Vida e morte de um Grito)


Ele nasceu de parto provocado, arrancando uivos às profundezas do magma quente, que se contorceu em dores. Abriu-se uma fenda na mole incandescente e ele saíu, finalmente, deixando uma cicatriz atrás dele (por ironia), do feitio dum coração; não daqueles simétricos, estilizados... não!.. Um coração de verdade, redondo, tosco, de vasos quebráveis e relevo rugoso. E quente.

Agora começava a sua subida... Os rios correm para o mar, normalmente a um nível inferior da serra que os dá à luz. Mas ele não era um rio, apesar de ter um qualquer parentesco afastado com os rios... Ele era sangue e paixão, vida e morte, bala e ricochete, desespero e expurgo! Transportava em si torrentes de sentimentos. Nada sobrevivia em si, ele sobrevivia em tudo, nada lhe fazia margem, ele era a margem, entre a nascente e a foz. E acartava estilhaços de alma na corrente, não como flutuantes pedaços de madeira, mas como bracejos de velas, lutando para não naufragar.

A pulso e silêncio contido, subiu. Cresceu. Raiou de púrpura os ocidentes, asfixiou horizontes, esgazeou o olhar que o vendava, rasgou a garganta que o retinha. Soltou-se, enfim, em estridor de foz e expiação.

Subiu ainda, em decibéis de asas feridas, descobriu-se em liberdade, perdeu-se no vazio... e morreu, em ecos de grutas petrificadas pela indiferença (as grutas são da idade da pedra, já se habituaram aos voos sinistros e assustadores de morcegos famintos...).

Caíu por fim, no silêncio suspenso dum crepúsculo deserto. As estrelas que vieram vê-lo, acusaram o estertor ribombante do seu último suspiro e tremeram.

A noite adormeceu, vestida de luto.
O grito morreu!...

Mas amanhã... amanhã a aurora vai ser cor-de-rosa e pássaros jovens irão aprender gorjeios duma sinfonia reinventada.
A Vida continua...