segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Passou mais um Natal...

Minha linda...
Há tantos dias que não deposito nem uma pequena pedrinha semi-preciosa no cofrezinho que fiz teu bragal...
Sabes que, do início do Inverno até passar o Natal, sinto sempre a tua presença mais forte. Aí pelo dia 1 de Novembro, quando semeio a tua campa rasa de rosas brancas, até não se ver nem um pedacinho de terra inerte, começa a minha descida... Daí até ao Natal, vai-me tomando, aos poucos, uma melancolia subtil, um laço de saudade que vai apertando, apertando... Os cânticos embalam-me uma dor que ganhou raízes e as luzes tremeluzentes não conseguem iluminar o meu Inverno...Voltam-me à memória tantos outros Natais, em que parte de mim morria contigo, e outra, solicitada pela minha responsabilidade familiar, ensaiava sorrir, brincar... vibrar, enfim, com os cânticos, as luzes, as prendas... Mas sei que tenho de pedir perdão aos meus filhinhos amados pelo Natais em que eu não estive completamente com eles. Perdão, meus filhos, perdão por tantas coisas que só vocês compreendem e pelas que só eu posso compreender... Amo-vos tanto, nunca vocês saberão quanto vos devo a minha vida e o meu equilíbrio! Vocês dois são o tributo mais precioso que lego ao Mundo, nesta minha curta e insignificante passagem pela Vida! E tu, Dianinha, és o tributo que eu leguei aos Céus...
Talvez me deva sentir ditosa por isso, quem sabe...
Mas, neste vigésimo aniversário da tua morte, sinto-me ainda tão dorida e revoltada...
Fecho os olhos e imagino-te, nos teus graciosos vinte e dois anos... Através da vidraça viva das minhas lágrimas, metamorfoseio o teu rostinho delicado de bebé num rosto belo, de jovem mulher... Imagino o teu corpinho franzino e sempre de uma elasticidade irrequieta, tranformar-se em formas perfeitas, de nobre porte... vejo os teus cabelos de seda soltarem-se dos totós onde eu os aprisionava, e voarem em volta dos teus olhos meigos e grandes, como beija-flores, em adoração serena... Sonho os beijos leves, carregados de amor, que a tua boca talhada em botão-de-rosa me daria ainda...
Oh, minha filha, sonho tanto! Mas se não fossem os meus sonhos, como seria a minha vida??
...E deixo os sonhos viver, lado a lado com as minhas dores... e, sabes um segredo? - Nas minhas (tantas!) horas amargas, nunca deixei de sentir a tua ternura, gravada para sempre na minha alma, naquele dia em que eu chorava, derrubada pela minha Vida madrasta, no chão da cozinha, daquela casa onde morávamos... lembras-te, filha? Tu, pequenininha, nem ainda com dois anos, foste-me buscar uma almofada e vieste consolar-me com um "Pom... pom, mãe..."... Ah, como dói essa lembrança!... Como posso deixar de chorar-te?!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008


EXPIAÇÃO



Posso viver a sofrer,
Sofrer é a minha estrada...
Mas sofrer a tua perda
É pranto que se não trava!

Se cumpro pesada pena
Pelo que fiz ou farei,
Não é justo que ainda sofra
Esta dor que não chamei...

Porque me abandonaste,
Suprema e alta clemência?
Porque me deixas curvada
Por uma sana demência?

Não há justiça na Terra,
Ou antes, quem a mereça,
E eu, pobre pecadora,
Só posso pedir que anoiteça...

Que venha a noite encobrir
Os sulcos das minhas lágrimas,
Que venha a Morte abafar
O virar das minhas páginas...

(1988)

PRESENÇA

Vejo-te quando abro os olhos
E não reconheço a manhã,
Porque o brilho do Sol
Esmaece, envergonhado,
Como a pedir-me perdão
Por me lembrar o teu brilho...
Vejo-te quando adormeço
E não encontro o silêncio,
Porque o sussurro das lágrimas,
A esconder-se do escuro,
Como tímidas borboletas,
Acordam a minha saudade...
Vejo-te quando te lembro
E dói-me tanto o desejo!,
Duma rosa de Dezembro,
Dum Anjo que a Deus invejo...




quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

TRILOGIA (ou AMOR NUM SÓ TEMPO EM TRÊS MOMENTOS)

27/Março/1981

Quando tu chegaste,
Meu mar de esperança,
Todo o verde se acendeu
Na avidez do teu olhar,
Como se a Primavera
Nascesse contigo,
Naquela jovem noite de Março

Encheu-me a alma
A tua presença,
A urgência do teu chorar,
A luz do teu sorrir,
O extâse sensorial do teu toque,
Da tua posse...

Um filho...
Meu filho primeiro,
Amor por inteiro,
Centro do meu mundo
a entrar em solstício de Verão...



20/Novembro/1984

Quando tu vieste,
Meu cálice de mel,
Fundiste as cores de Outono
No ouro do teu olhar,
Como se a Vida
Brincasse de Midas,
Naquela tarde meiga de Novembro

Revesti minha alma
Do brilho novo
Dum caro tesouro,
Terno querubim,
Meu pomo frágil, suprema dádiva
Ao meu poder de amar...

Meu filho...
Um filho é sempre único,
Amor prelúdio
Dum cerco de luz
a esboçar-se na lareira quente do meu colo...



08/Dezembro/1985

Quando tu chegaste,
Rosa inesperada,
O Inverno riu
E a estrela da manhã
Chamou o Sol para ver
Tão belo presente,
Envolto em carícias de Dezembro

Enfeitei minha alma,
Vesti-me de amor,
Gravitei novo vértice
De sedução e absoluto querer,
Banhei-me de luz,
Julguei-me completa...

Minha filha...
Pedaço de mim,
Pedaço de nós,
Suma perfeição que Deus quis tocar...
para acreditar...