quinta-feira, 25 de junho de 2009


AMO-TE, TÃO TERNAMENTE



Amei-te...
tão ternamente!...
E revejo-te a ensaiar passos de encontro
aos meus passos e abraços
tão felizes,
que de amar-te guardo o riso,
guardo a fonte,
da saudade que me segue
em passos próximos...


Amei-te...
tão ternamente!...
Que em memória se me embarga
a voz, de rouca,
quando leio a história que te contou...
E as palavras que sabias, de tão poucas!,
-a mais bela, a mais ouvida, a mais gravada,
tenho-a ainda no meu peito cravejada:

-MÃE...


Ai de quem
perde o eco desse apelo
assim ceifado,
sem aviso,
arrancado!


E eu preciso
eternamente
repetir-me
a saudade,
repetir-te
eternamente:


Amo-te...
tão ternamente!...



O DIA EM QUE EU CHOREI PARA DENTRO


O dia em que eu chorei para dentro foi-me fatal. Essa manhã acordou já húmida, o Inverno agarrara-se a fiapos de nevoeiro, tentando aquecer-se, mas o efeito foi o contrário: fiapos de algodão levados a frio extremo transformam-se em agulhetas de gelo... que ferem, que fazem sangrar...Mas foi a humidade que me danificou, mais que o frio. O frio foi até meu amigo, paralisou-me, ficou ali comigo, petrificou-me, como se quisesse que a Dor passasse por mim sem me notar...A humidade foi-me cruel fatalidade. Não aquela que pingava na visibilidade do ar, cá fora! Não, essa não. O problema foram as lágrimas quentes, que, trementes e tementes do frio cá fora, se recolheram aos meus olhos e me caíram para dentro... Não sei bem que dano irreversível me causaram, sei lá, um curto circuito interno, sei lá!..Sei que nunca, nunca mais, consegui voltar a ligar a alavanca de Arquimedes, e erguer-me acima do nevoeiro......e o sol que consigo, é sol inventado, algures entre uns olhos de mar e uns olhos de mel... e um bater de asas de anjo...



(relembrando...)



INFILTRAÇÃO



Sinto a minha alma molhada,

Empapada.

Acho que o meu coração cedeu,

Rompeu...

E uma infiltração difusa

Escorre por fenda obtusa.

Será chuva?


O meu coração é um charco,

Um barco

Sem fundo e sem vela,

Aguarela

Sem cor e sem vida,

Mera força amolecida...

Naufrago?


A minha alma apodrece,

Esvaece.

Do coração trespassa,

Perpassa,

A humidade que mina

Os alicerces da ruína...

Será só orvalho?


O meu coração goteja,

Mareja,

Molha a minha alma frágil,

Intáctil.

E rios de cristal fluído

Aquecem-me o olhar perdido......

São lágrimas!