segunda-feira, 10 de outubro de 2011

EXTRACTOS DE UMA DOR PRÓPRIA


"...Numa noite fria dum Inverno amargo, perdeu-se a dor na minha alma. Um nevoeiro denso cobriu as margens do meu rio, congelou-lhe a fluidez plácida em gumes cortantes de desespero... E a minha dor, pobre, mártir, exangue, vagueou nas trevas, aprisionada para sempre nos calabouços do meu peito..."

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"...As garras frias duma dor maldita subjugaram-me ali, num instante de tristeza que durou um tempo infinito. Um tempo que não coube no tempo, imensurável. Porque eu o quis negar, ficando assim, imóvel e gelada, petrificada, como se quisesse enganar a Vida... ou a Morte...
Como se quisesse que ela (a Vida ou a Morte), passasse por mim sem se aperceber de mim, sem me magoar, sem me ferir, sem me notar..."

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*...Às vezes caio, pesadamente, doridamente. Deixo a tristeza aproveitar-se de mim, invadir-me, violar-me, estraçalhar-me. Amordaçar-me os olhos que se imobilizam, num foco frio, sem vida... Sinto-a percorrer-me a pele, sinto-lhe o toque gelado, as garras, o peso, bruto, esmagando-me na apatia, no quebranto de alma. ´
E o Tempo pára...
Cúmplice dela ou meu cúmplice?
Com requintes de malvadez ou piedade de algoz?
Com sede de lágrimas, que me exige avaro e seco, ou com dó de mim, para que eu não lhe guarde memória?
Para ser gozo de si próprio ou lapso do meu entendimento?...
...
O Tempo é servo da Dor... infiel, para nosso conforto. Porque quando ela (a Dor) nos esgota, quando já não tem mais nada para nos extorquir e deixa de lhe pagar a maquia (ao Tempo), ele trai-a, fica do nosso lado, joga a nosso favor... mas leva o seu tempo! ...*

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