terça-feira, 18 de dezembro de 2007

REVOLTA

Escoo a dor...

Por força de tanto sentir,
por mais que eu queira negar,
a verdade revela-se a frio
e as faíscas soltas perdem o calor acutilante,
à medida que me penetram a pele...

A minha filhinha morreu...

O Sol enlutou os dias frios,
por respeito à minha dor...

A minha filhinha morreu...

O nevoeiro beija-me a face fria,
as mãos caídas, como folhas de Outono.
Pede-me perdão pelo roubo atroz,
pela injustiça da soberana Vida,
pela crueldade da impiedosa Morte...

A minha filhinha morreu...

Caem sobre mim olhares a pingar compaixão.
Olhares mudos que não se calam!
Palavras cegas que julgam ver!

A minha filhinha morreu...

E a saudade acalenta-me os sonhos que durmo,
adormece-me os pesadelos que me acordam,
meiga e subtil, como mãe protectora...

A minha filhinha morreu...

Porquê???

Parem de tocar os sinos, já não há Natal!
Calem-me os cânticos das crianças, como pode haver Natal?
Fechem as portas, calafetem as chaminés, o Natal já não vem!
Desliguem a alegria, apaguem as fogueiras, porque o Natal morreu!
Como pode ainda haver Natal?
Nada já é o mesmo, o Menino Jesus não nasceu...

Porque a minha filha morreu...


(Escrito em Dezembro de 1987)

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